OS KALIANOS
O Pirata Kaliano e a Fundação do Klã - Reposição
Foi então do modo como temos vindo a contar que Dom Korleane Kaliano (ou, se se preferir, o Pirata Kaliano) se tornou senhor de todas as terras em redor, dominando tudo o que fosse de Apeskáleira até Terradionda, passando por Varalhais.
Aqui empanturrava-se de caracóis, em Acaleirona comia bacalhau seco, em Amarinhada enchia o bandulho com moamba de galinha, sobretudo em homenagem à real ascendência materna, tendo sua alteza Dona Marcelináia imposto a todas as suas aias a obrigação de lerem o famoso “Pantagruel” da primeira à última página, e aprenderem todos os segredos gastronómicos afro-asiáticos.
Em todo este tempo Dom Korleone (ou também O Pirata) nunca deixou de mamar, como desde cedo tinham dito os doutores do reino, e foi sem surpresa que a populaça ficou a saber que Cidalina Capeluda (que aliàs nunca perdeu o ar de parideira profissional, apesar de todo o esforço dos mestres que a ela se dedicaram para aprender as boas maneiras da nobre linhagem de seu amado esposo, e para vir a ser uma verdadeira primeira dama kaliana) dava à luz o primeiro real rebento do reino kaliano, por acaso uma menina, que recebeu de seus padrinhos o nome de Andreota Kaliano, e que viria mais tarde a ser uma espécie de dama das camélias de Acaleirona.
Na sua sede de alagar os horizontes e fronteiras dos domínios kalianos, O Pirata Dom Korleone começou a planear a tomada de Fozigueira, terra de antigo domínio de Dom Santanana de Glugopes que, é bom recordar, continuava errante pelas areias do deserto da beira mar atlântica, fosse chorando lágrimas de saudade nas águas da Mauritânia, ou mesmo em rápidas escapadelas até Fozigueira.
É que desde a sua saída deste tão amado domínio, aquilo nunca mais foi o que tivera sido.
E Dom Korleone Kaliano, O Pirata, mestre na arte de ficar com o que é dos outros, basta ver o que aconteceu a Giuseppe Petrovich, criou o chamado Conselho Privado Real, algo parecido com uma antecâmara do Conselho de Estado, aquilo que em outros reinos é conhecido por “núcleo duro”.
Mandou Korahmud Saleh regressar da Sicília, onde de resto conseguiu terminar os seus estudos em medicina veterinária, e com mestrado na maratona olímpica, e juntamente com Dona Marileka, marquesa de Painaguião, especialmente conhecida pelos seus dotes de eventual inteligência, Dona Simplesmente Maria, condessa de Nestprório e vagamente descendente do reino da Jordânia, mais Dona Agrilhaira, duquesa do Repolho, o bem amado esposo desta última Dom Relkocheório, o Coxo, senhor do reino de Trepucilgibski, começou a planificar a invasão de Fozigueira.
Como já se disse em episódios anteriores todos estes elementos da história são familiares entre si, e por isso, dado o elevado grau de família que possuem, não admitem a intromissão de qualquer intruso que não acate as regras de funcionamento tacitamente acordadas por todos eles.
Foi até para tentar evitar complicações desta natureza que O Pirata do Kaliano resolveu instituir a célula do Klã.
Um belo dia apareceu a seu pai Peskaleone com a ideia e este, tão entusiasmado ficou que tratou de aprontar o que fosse necessário.
Claro, como se tratava de gente vinda de dois reinos e etnias diferentes, fácil foi logo à partida juntar um número considerável de participantes.
E no dia desse primeiro encontro, ali para os lados de onde o Sol se põe, e onde ainda Dom Santanana de Glugopes não sonhava com voos nenhuns, sentaram-se todos à volta da mesa fazendo aquilo em que viriam a tornar-se mestres.
Tendo por instrutor o siciliano Korahmud Saleh, e com os conhecimentos que o Pirata do Kaliano adquiriu nas Escolas da Congregação de DonaSantaMafiona, como de resto já sabemos, e bem assessorado por Dona Marileka e toda a restante fauna a que temos aludido, fundaram o Klã Kaliano, de onde começariam a sair dentro em pouco fornadas e fornadas de Kalianos mestres na arte da conspiração.
Conspirar tornou-se a única coisa que eles bem sabem fazer, e passou a ser a primeira indústria kaliana, e também o seu principal divertimento.
Para a semana há mais.
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